Voto de Congratulação

Pelos 100 anos da visita de Raul Brandão aos Açores.

Foi a 17 de junho de 1924, há precisamente 100 anos, que Raul Brandão chegou aos Açores, a bordo do vapor São Miguel, tendo desembarcado na Ilha do Corvo com a curiosidade de um explorador e a sensibilidade de um poeta.

Ficou 14 dias na ilha do Corvo, pela qual desenvolveu um particular fascínio, tendo, curiosamente, pernoitado na casa que atualmente abriga a Delegação da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores na ilha.

Aquando do seu regresso a Lisboa, concedeu uma entrevista ao Jornal Portugal, Madeira e Açores em que disse: Cada ilha dos Açores tem a sua individualidade (…) Pela sua vida interessantíssima destaco o Corvo. Projetei a minha viagem há muito tempo, depois de ter lido o testamento de Mouzinho da Silveira (…) Dá-me vontade de chorar quando relembro o carinho e a ternura com que me trataram no Corvo. No Corvo andaram comigo ao colo. Quando embarquei, toda aquela gente veio despedir-se de mim. O Corvo é um mundo.

Desta passagem pelos Açores e pela Madeira, nasceu o livro “As Ilhas Desconhecidas. Notas e Paisagens“, que transcende o simples relato de uma viagem. A obra de Brandão capturou a essência do arquipélago, revelando, através de uma prosa poética e observações minuciosas, as belezas naturais, as paisagens deslumbrantes e a vida quotidiana das nossas gentes.

Raul Brandão, com a sua sensibilidade ímpar, conseguiu eternizar nas páginas do seu livro um retrato fiel e profundo das nossas ilhas, que ainda hoje nos emociona e inspira. A sua capacidade para captar detalhes e a sua habilidade em traduzir as suas observações em palavras, permitiram-lhe criar uma das mais belas descrições do arquipélago açoriano.

Em “As Ilhas Desconhecidas. Notas e Paisagens“, Raul Brandão oferece-nos um olhar profundo sobre a vida insular, descrevendo com maestria as paisagens vulcânicas, os campos verdes, as casas brancas e o mar azul que rodeia as nossas ilhas.

A sua escrita caracteriza-se por uma sensibilidade que vai além da mera descrição. Brandão não se limitou a relatar o que via. Mergulhou na alma das

ilhas, captando a essência dos lugares e das pessoas. As suas palavras ressoam com a melancolia das paisagens, a dureza da vida dos pescadores e dos camponeses, a simplicidade das gentes. “As Ilhas Desconhecidas. Notas e Paisagens“, é, assim, uma obra que nos toca profundamente, pois revela a alma açoriana de uma forma única e incomparável.

Esta é considerada por muitos como uma das melhores obras de literatura de viagens do mundo. Através das suas páginas, Raul Brandão transporta-nos para um tempo e um espaço onde a natureza e a humanidade se entrelaçam de forma harmoniosa e, por vezes, dramática. A sua escrita é uma celebração da beleza natural dos Açores, mas também uma reflexão profunda sobre a condição humana.

A obra de Raul Brandão transcende a simples descrição geográfica. Ela é uma meditação sobre a existência, sobre a relação do homem com a natureza, sobre a beleza e a tragédia da vida insular. Cada ilha, cada paisagem, cada pessoa descrita por Brandão ganha vida nas suas palavras, revelando um mundo desconhecido e fascinante.

Para Pedro da Silveira, Raul Brandão é “o maior dos escritores de fora que sobre elas e o seu povo escreveu”. O legado de Raul Brandão nos Açores é imenso. A sua obra continua a ser uma fonte de inspiração para escritores, poetas, artistas e todos aqueles que se sentem atraídos pela beleza e pela singularidade das nossas ilhas.

Raul Brandão ajudou a colocar os Açores no mapa literário do mundo, mostrando a riqueza cultural e natural do arquipélago. Neste centenário, é importante refletirmos sobre a importância de preservarmos e valorizarmos este legado. “As Ilhas Desconhecidas. Notas e Paisagens” é uma obra que nos desafia a olhar para as nossas ilhas com um olhar renovado, a apreciar a sua beleza, a compreender a sua história e a valorizar a sua cultura.

Assim, neste centenário da visita de Raul Brandão aos Açores, é de inteira justiça a aprovação de um voto de congratulação de reconhecimento ao seu contributo inestimável para a literatura e para a divulgação da identidade açoriana.

Que este voto sirva como um tributo à memória de Raul Brandão e à sua obra e também como um incentivo à valorização e divulgação da nossa cultura, das nossas tradições e da nossa História.

Assim, nos termos das disposições regimentais aplicáveis, a Representação Parlamentar do PPM propõe à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em Sessão Plenária, a aprovação de um Voto de Congratulação pelo centenário da visita de Raul Brandão aos Açores.

Do presente voto deve ser dado conhecimento aos familiares de Raul Brandão e à Sociedade Martins Sarmento.

Horta, Salas das Sessões, 9 de julho de 2024

O Deputado do PPM,

João Mendonça

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