Hospital Modular: A verdadeira história por trás da decisão que salvou a Saúde nos Açores

O incêndio que atingiu o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, no dia 4 de maio de 2024, impôs à Região Autónoma dos Açores um desafio sem precedentes. A destruição parcial da infraestrutura hospitalar exigiu uma resposta imediata e eficaz para garantir que a população não ficasse desprovida de assistência médica essencial.

A única solução possível, dentro dos prazos e das necessidades da região, foi a instalação de um hospital modular. A decisão teve por base critérios técnicos e a urgência da resolução da situação. A sua validade foi reconhecida por especialistas e por diversas entidades ligadas à saúde, mas, curiosamente, tornou-se um alvo fácil para aqueles que, meses depois, descobriram uma súbita coragem para a criticar. Mas vamos por partes:

A Ineficiência de uma Recuperação Tradicional

A ideia de reconstruir imediatamente as áreas afetadas pelo incêndio pode parecer sensata à primeira vista, mas ignora os desafios técnicos, legais e operacionais envolvidos numa obra hospitalar desta magnitude.

É essencial compreender que qualquer reabilitação de um hospital impõe processos rigorosos de avaliação e licenciamento, sem os quais não seria possível iniciar as obras. A isto acresce a necessidade de cumprir as normas da contratação pública (exceto nas situações em que seja decretado o estado de calamidade), o que implica concursos demorados para adjudicação da obra, sem qualquer garantia de que o projeto pudesse avançar em tempo útil.

Estudos de engenharia hospitalar indicam que uma recuperação de médio porte, mesmo que parcial, pode demorar vários anos até estar concluída. No caso do Hospital do Divino Espírito Santo, qualquer tentativa de reconstrução teria de respeitar exigentes protocolos de segurança e planeamento, tornando impossível que a unidade estivesse novamente operacional em poucos meses, como alguns sugeriram.

Além disso, há um fator inquestionável que reforça a necessidade de uma solução alternativa: o hospital já operava no limite da sua capacidade antes do incêndio. A recuperação da estrutura afetada não resolveria o problema de sobrecarga dos serviços hospitalares, apenas adiaria uma necessidade que há muito se fazia sentir: a de criar novas infraestruturas para garantir uma resposta eficiente à população.

A decisão de avançar com um hospital modular não foi uma escolha circunstancial ou impulsiva, mas sim uma necessidade fundamentada em critérios técnicos e logísticos. Foi a única alternativa viável para garantir uma resposta rápida e eficaz à população, sem esperar pelos longos anos que qualquer reabilitação implicaria, isto se fosse feita dentro da legalidade e exigência inerente ao próprio processo.

Críticas e Oportunismos: O Espetáculo Que Chegou Tarde Demais

A polémica em torno desta solução não nasceu no momento da decisão, nem quando o hospital modular começou a funcionar. Só agora, com tudo já implementado e com os resultados visíveis, surgem vozes indignadas, cheias de certezas retroativas e de análises milimetricamente construídas para parecerem legítimas.

Todos sabemos que quem ocupa cargos públicos tem responsabilidades, e se considera que algo não está correto, tem o dever de se posicionar publicamente ou, se a discordância for insuperável, abandonar o cargo, o que é legítimo! O que se espera de quem assume funções de relevo é que defenda as suas convicções com coerência, no momento certo e nos locais certos!

Mas o que se viu foi outra coisa. Sussurros de bastidores, conversas em tom conspirativo, dúvidas lançadas à socapa. E agora, de repente, grita-se.

Ora, se havia tanto a contestar, por que motivo aqueles que agora se apresentam como detentores da verdade não tornaram públicas as suas discordâncias, quando podiam fazê-lo de forma responsável e consequente? Quando se está numa posição de decisão, discordar em silêncio para depois contestar aos gritos não é apenas um contrassenso – é um ato de conveniência.

A questão que se coloca é simples: por que só agora há coragem para gritar? Se existiam dúvidas sobre a solução encontrada, por que razão não foram levantadas na altura certa? Por que motivo aqueles que ocupavam cargos de responsabilidade não tomaram uma posição clara e transparente, ao invés de ficarem em silêncio até que o trabalho estivesse feito e os resultados fossem visíveis?

Mais caricato ainda é o facto de algumas dessas vozes pertencerem a círculos internos de decisão e, por isso, terem tido oportunidade de se opor ativamente aos procedimentos. Se estavam tão incomodadas com os caminhos traçados, esperava-se, no mínimo, que demonstrassem essa insatisfação de forma firme eficaz e audível, assumindo um papel de coragem com cobertura não agridoce, mas de facto com clareza no paladar.

Apenas agora, depois da tempestade ter passado e do hospital modular estar operacional, surgem declarações inflamadas, carregadas de indignação seletiva e timing questionável. Se a intenção era demonstrar coerência e compromisso com a verdade, a demora em levantar estas questões só levanta dúvidas sobre a verdadeira finalidade dessas intenções.

O Hospital Modular: A Decisão Correta e Inevitável

Independentemente das tentativas de criar ruído em torno da solução encontrada, a realidade é inegável. O hospital modular garantiu a continuidade dos serviços essenciais, sem as demoras e complicações que um projeto de recuperação tradicional implicaria.

Com todas as suas valências – desde o serviço de urgência e blocos operatórios até às unidades de cuidados intensivos – esta infraestrutura foi projetada para assegurar um atendimento digno e eficaz, permitindo uma transição adequada enquanto se planeia a reestruturação definitiva do HDES.

Além disso, qualquer análise séria à recuperação do hospital incendiado revela que uma reabilitação completa levaria anos a concretizar-se, devido aos processos burocráticos e técnicos que uma obra dessa envergadura exige. Portanto, a ideia de que seria possível ter o hospital recuperado em tempo útil não passa de um exercício de ficção, destinado a alimentar polémicas em vez de apresentar soluções reais.

A Verdade Sempre se Impõe – Ainda que Tarde

A neblina propositadamente criada à volta desta solução acabará por dissipar-se. O tempo será o melhor juiz sobre quem tomou decisões responsáveis, baseadas na realidade, e quem apenas apareceu depois, talvez motivado pelo despeito, para lançar dúvidas e alimentar suspeitas e teorias da conspiração.

O hospital modular não é apenas uma solução temporária – é uma resposta estratégica, de médio prazo, construída com conhecimento técnico e validada por quem verdadeiramente entende de saúde pública. As críticas tardias e as tentativas de desacreditar esta decisão não resistem à realidade dos factos:

               1. O hospital modular garante assistência hospitalar plena e sem quebras de qualidade.

               2. A opção pela reconstrução imediata não era viável num prazo útil e deixaria a região desprovida de resposta adequada.

               3. A solução adotada foi tecnicamente validada e reconhecida por especialistas na área da saúde.

A política não pode ser feita de retórica vazia, mas sim de decisões concretas e sustentáveis, e foi precisamente isso que se viu neste caso. O hospital modular não é apenas uma resposta ao incêndio de 4 de maio – é um passo estruturante para o futuro da saúde nos Açores, que permite planear com tempo e com critério a reabilitação do hospital incendiado e o reforço da rede de cuidados hospitalares na região.

A decisão tomada foi correta, necessária e sustentada em evidências. Os factos falam por si.

Paulo Margato

Scroll to Top