Pelo 145.º aniversário da primeira visita do Príncipe Alberto I do Mónaco aos Açores
Albert Honoré Charles Grimaldi, nasceu em Paris, a 13 de novembro de 1848. Desde cedo manifestou um profundo fascínio pelo mar, o que o motivou a seguir uma carreira naval.
Teve uma educação clássica em instituições militares francesas e espanholas, mas cedo se destacou pelo seu espírito inquisitivo e amor pela ciência.
A aquisição da escuna Hirondelle, em 1873, marcou o início das suas expedições marítimas, onde começou a explorar o Mediterrâneo e o Atlântico em busca de conhecimento.
Foi em 1879, que o Príncipe Alberto I partiu de Tânger rumo às Ilhas Canárias e Madeira, chegando finalmente aos Açores em meados de março. Durante um mês, explorou o arquipélago, imerso na beleza das paisagens e na rica biodiversidade da sua vegetação e oceano.
Os Açores, em particular a ilha do Corvo, deixaram uma impressão indelével na sua mente. Descreveu os corvinos como pessoas de uma bondade genuína e encontrou, nas suas interações com a população local, uma fonte constante de inspiração, escrevendo o seguinte:
“- Fui recebido nesta ilhota perdida pelas pessoas mais valentes do mundo, de uma ingenuidade total, apenas igualada pela sua bondade.”
Desembarcou no Corvo em três ocasiões e desenvolveu uma relação próxima e calorosa com a população corvina. A ilha ocupou um lugar especial no seu coração. Num dos momentos em que abandonou a ilha, deixou esta reflexão:
“– Aparelhei o meu navio perguntando-me se voltaria a ver este rochedo cuja solidão desperta uma sensação de repouso nos espíritos que lutam contra uma vida difícil.”
Neste âmbito importa ainda referir que o município do Corvo tem réplicas, cuja divulgação está autorizada pelo principado do Mónaco, da valiosa coleção de 500 fotografias da expedição do príncipe. Estas constituem as mais antigas imagens conhecidas da ilha. A coleção está disponível na Casa do Bote e serve como um testemunho visual da ligação entre Alberto I e a comunidade corvina.
Entre 1885 e 1915, o Príncipe liderou 29 campanhas oceanográficas, em 4 navios diferentes, das quais 13 foram dedicadas aos Açores, onde instalou 843 estações, percorrendo todas as ilhas.
As águas açorianas tornaram-se o seu laboratório natural, onde realizou inúmeras descobertas, que beneficiaram a ciência e as comunidades locais. Durante uma das suas expedições em 1896, descobriu o banco Princesa Alice, ao sudoeste das ilhas do Faial e do Pico, um importante recurso para a pesca e a navegação. Em 1902, localizou a fossa do Hirondelle, entre as ilhas Terceira e São Miguel, que tem uma profundidade máxima de 3200 metros.
A paixão de Alberto I pela oceanografia não se limitava à exploração, o soberano também estava profundamente envolvido na meteorologia marinha. Reconhecendo a importância estratégica dos Açores para as previsões meteorológicas, colaborou estreitamente com o coronel Francisco Afonso Chaves. Juntos trabalharam para equipar os observatórios açorianos com instrumentos adequados e estabelecer uma rede de comunicação eficiente, aproveitando os recém-instalados cabos telegráficos que ligavam as ilhas à Europa e à América.
A contribuição de Alberto I para a ciência e a humanidade foi amplamente reconhecida. Fundou o Instituto Oceanográfico em Paris, a Fundação Albert I e o Museu Oceanográfico do Mónaco, instituições que continuam a promover a pesquisa e a conservação dos oceanos até hoje.
O seu livro autobiográfico, “La carreie d’un navigateur”, revela um espírito indomável de liberdade e uma profunda preocupação com a dignidade humana. O amor pelo mar, o fascínio pela descoberta e pela ciência e uma melancólica nostalgia são sentimentos que emergem das suas palavras. A sua personalidade humanista é moldada por um triângulo harmonioso de cultura, arte e ciência, refletindo a complexidade e a profundidade da sua essência. Reserva um lugar especial aos Açores, refletindo o impacto profundo que as nossas ilhas tiveram
na sua vida, como referido no romance de Vitorino Nemésio “Mau Tempo no Canal” que nos fala da persistência do sucesso da sua obra e memória no arquipélago.
As ligações do príncipe Alberto aos Açores transcendem o domínio científico, sendo ele também patrono da Sociedade Propagadora de Notícias Micaelenses, uma instituição dedicada à promoção do arquipélago.
Após o seu falecimento, a 26 de junho de 1922, os açorianos manifestaram vários testemunhos de reconhecimento, nomeadamente no âmbito da toponímia da Região.
Durante a visita aos Açores em 2022, que marcou o centenário da morte de Alberto I, o príncipe Alberto II do Mónaco elogiou os esforços do executivo regional na proteção dos oceanos e garantiu o seu apoio ao projeto Blue Azores. Na mesma ocasião, o presidente José Manuel Bolieiro anunciou que a nova gare marítima na ilha do Corvo será designada Príncipe Alberto I do Mónaco.
O seu espírito visionário e as suas contribuições inestimáveis para a oceanografia e compreensão dos mares dos Açores inspiraram gerações. O Príncipe Alberto I do Mónaco eternizou-se como uma figura incontornável da nossa História, cujas descobertas enalteceram a beleza e riqueza do nosso arquipélago para sempre.
Nos Açores, escreveu o Príncipe, “a terra vai-se afastando gradualmente, a linha vaporosa das montanhas altaneiras vai-se afundando até se confundir com a ligeira ondulação do ar calmo. Os Açores desaparecem na solidão oceânica, levando consigo os habitantes dos seus vales férteis. A toda a volta, só o mar aberto…”
É, assim, de inteira justiça a aprovação de um voto de congratulação de reconhecimento pelas suas descobertas e paixão pelos Açores. Que a sua memória continue a ser honrada e que o seu legado continue a inspirar futuras gerações a explorar, proteger e respeitar o vasto e misterioso Atlântico que ele tanto amava.
Assim, nos termos das disposições regimentais aplicáveis, a Representação Parlamentar do PPM propõe, à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em Sessão Plenária, a aprovação de um Voto de Congratulação pelo 145.º aniversário da primeira visita do Príncipe Alberto I do Mónaco aos Açores.
Do presente voto deve ser dado conhecimento ao Principado do Mónaco.
Horta, Salas das Sessões, 10 de julho de 2024
O Deputado do PPM,
João Mendonça
