𝐍𝐚 𝐎𝐩𝐨𝐬𝐢𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐞́ 𝐅𝐚́𝐜𝐢𝐥 𝐆𝐨𝐯𝐞𝐫𝐧𝐚𝐫: 𝐂𝐫𝐨́𝐧𝐢𝐜𝐚 𝐝𝐞 𝐃𝐨𝐢𝐬 𝐑𝐞𝐢𝐧𝐨𝐬

Houve um tempo, num arquipélago perdido no meio do oceano, em que dois reinos governaram a mesma terra, mas em épocas distintas. O primeiro, o Reino das Promessas Douradas, reinou durante 24 anos (1996-2020), caracterizado por uma liderança que distribuía promessas como quem semeia ao vento, sem nunca se preocupar com a colheita. Quando, finalmente, o seu governo chegou ao fim, deixou atrás de si um rasto de desorganização, dívidas avultadas e infraestruturas em ruínas.

O segundo, o Reino da Realidade, assumiu as rédeas com os pés firmemente assentes no chão e uma missão árdua: corrigir os erros do passado, reconstruir o que fora destruído e governar com responsabilidade. Este novo governo sabia que não poderia transformar o arquipélago num paraíso de um dia para o outro, pois os estragos herdados não se resolviam com discursos eloquentes ou truques de magia política. Mas também estavam cientes de que só́ havia um caminho: o do trabalho árduo, da transparência e da responsabilidade.

𝑂 𝑅𝑒𝑖𝑛𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑃𝑟𝑜𝑚𝑒𝑠𝑠𝑎𝑠 𝐷𝑜𝑢𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠: 𝑈𝑚 𝑅𝑒𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑒 𝐼𝑙𝑢𝑠𝑜̃𝑒𝑠 𝑒 𝐷𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑𝑒̂𝑛𝑐𝑖𝑎

No trono do Reino das Promessas Douradas estava o Grande Feiticeiro Vermelho, uma figura grande, barriguda, de presença imponente. Diziam os anciãos que, ao entrar numa sala, até os castiçais tremiam. Arrogante, omnipresente e omnipotente, acreditava ser dono absoluto do reino e senhor incontestável do destino dos súbditos. Só ouvia a sua própria voz e detestava ser contrariado. O mundo começava e acabava onde terminava o alcance do seu olhar.

O seu governo não era feito de trabalho árduo ou de estratégia, mas sim de grandiloquência. Acreditava que bastava discursar para mudar a realidade, que prometer bastava para cumprir. O problema, claro, era que a realidade raramente se deixava convencer.

O seu conselho real incluía figuras notáveis:

• O Mestre Ilusionista da Economia, que proclamava cofres cheios e finanças saudáveis, enquanto as dívidas se acumulavam silenciosamente.

• O Mago dos Transportes e da Conectividade, que desenhava mapas fantasiosos onde viajar entre as ilhas parecia fácil e acessível. Na realidade, as ligações entre as ilhas eram um luxo reservado aos nobres do reino, deixando o povo comum preso às suas próprias terras.

• O turismo também não escapava à ilusão. Os visitantes que chegavam ao arquipélago pouco ou nada contribuíam para a economia local. Na verdade, o próprio reino investia somas consideráveis para atrair turistas que gastavam pouco, resultando num retorno económico insignificante.

• O Conde das Pescas e da Agricultura, que prometia mares abundantes e campos férteis, enquanto os pescadores enfrentavam redes vazias e os agricultores viam as suas colheitas minguar sem apoio adequado.

• O Duque da Educação, que assegurava que os professores eram valorizados, mas, na prática, os educadores trabalhavam sem perspetivas de progressão na carreira, levando os jovens a procurar oportunidades fora do reino.

• O Grande Guardião dos Céus, responsável pela criação de uma frota aérea majestosa. Contudo, em vez de investir com prudência, concebeu um monstro financeiro conhecido como o “Cachalote”. Esta entidade devorava os recursos do reino, exigindo sacrifícios constantes e, em vez de servir o povo, servia-se dele. O custo de manter este gigante dos ares era tão elevado que ameaçava afundar o próprio reino.

• Além disso, havia a Saudaçor, entidade responsável pela gestão dos recursos de saúde do reino. Sob a sua administração, acumularam-se dívidas substanciais, criando um fardo financeiro que quase levou o reino à bancarrota. A má gestão e o descontrolo orçamental na saúde contribuíram significativamente para a crise financeira que o reino enfrentava. Especificamente, a dívida da extinta Saudaçor ascendia a 811 milhões de euros, posteriormente assumidos pelo atual Rei, sendo uma das causas do descalabro financeiro do setor da saúde.

• Outra criação deste reino foi a Ilhas de Valor, um feudo concedido por Medícius, por ordem do Rei, que se dedicava a erguer monumentos de grandeza incerta e utilidade duvidosa, sempre com muito gasto e pouco retorno. Diziam os cronistas que ali se plantavam campos de golfe onde não havia golfistas, erguiam-se estalagens onde não havia hóspedes e se anunciavam negócios que nunca se concretizavam.

Mas talvez a maior característica deste reino fosse o seu sistema de dependência institucionalizada. Parecia que as políticas daquele reino estavam desenhadas para perpetuar a pobreza e a submissão, transformando os súbditos em pedintes de mão estendida. A estratégia era simples: manter a população dependente de subsídios e ajudas, garantindo que trocavam a sua dignidade pelo favor real. Quem ousasse erguer-se e querer caminhar sozinho, quem tentasse criar riqueza ou inovação, rapidamente descobria que o reino não tolerava vassalos demasiado independentes.

Até que, um dia, o reino despertou. E o Reino da Realidade chegou para mudar o curso da história.

𝑂 𝑅𝑒𝑖𝑛𝑜 𝑑𝑎 𝑅𝑒𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒: 𝐺𝑜𝑣𝑒𝑟𝑛𝑎𝑟 𝑐𝑜𝑚 𝑜𝑠 𝑃𝑒́𝑠 𝑛𝑜 𝐶ℎ𝑎̃𝑜

Em 2020, os habitantes do arquipélago decidiram que era tempo de abandonar as ilusões e enfrentar a realidade. Uma coligação de casas nobres – os Escudados, os Valentes do Mar e os Pensadores das Montanhas – assumiu o trono com uma abordagem diferente: não prometeram milagres, mas comprometeram-se com trabalho árduo e transparência.

O Mestre da Economia Pragmática analisou as finanças do reino e descobriu a verdadeira extensão do desastre: desemprego elevado, um défice financeiro colossal e uma frota aérea que consumia recursos incessantemente. Mas não havia tempo para lamentações – era necessário agir. E assim, o desemprego começou a diminuir, atingindo os 7%, e novas oportunidades surgiram.

O Senhor dos Transportes e da Conectividade implementou mudanças significativas: as viagens entre as ilhas tornaram-se acessíveis a todos os cidadãos, eliminando o elitismo que antes prevalecia.

O Guardião das Pescas e da Agricultura honrou as promessas feitas aos trabalhadores do mar e da terra, assegurando pagamentos justos e apoio efetivo. Mais importante ainda, priorizou o bem-estar animal e a sustentabilidade ambiental.

Mas, acima de tudo, o Reino da Realidade quebrou a cultura de dependência. Em vez de subsídios e ajudas para perpetuar a miséria, começaram a surgir políticas que incentivavam o trabalho, o empreendedorismo e o crescimento económico real. O reino percebeu que a prosperidade não vem da esmola, mas sim da liberdade para criar, trabalhar e inovar.

No entanto, enquanto o Feiticeiro Vermelho e os seus acólitos continuavam a proclamar que tudo estava errado – sem, no entanto, apresentar qualquer solução –, o Reino da Realidade continuava o seu caminho, tijolo a tijolo, construindo um futuro sólido, sem ilusões nem enganos. E, no fim, ficou provado que governar na oposição é fácil, mas governar de verdade exige coragem, responsabilidade e, acima de tudo, respeito pelo povo.

Paulo Margato

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